sábado, 20 de outubro de 2007

Querô

Chuva de palavrões, violência, injustiça, mais violência e sangue frio. Tudo de ruim que faz um filme ser bom. É claro que a dose varia de acordo com a intenção, mas se o objetivo é comover, sensibilizar ou até despertar o espectador, isso nunca é o bastante.

O cinema brasileiro, desde que começou a se levar a sério, tem o hábito de querer mostrar o que é real (e digo o que há de pior no mundo real) de forma brusca e até assustadora. Tanto fez com vários filmes de sucesso como Central do Brasil e Cidade de Deus, entre tantos, que hoje está se tornando especialidade: reproduzir horrores da vida cotidiana. E pra ficar ainda mais real, mais chocante e crível tem sido comum recrutar pessoas da própria realidade em questão para protagonizarem suas próprias histórias.

Querô é assim mesmo. Real, sujo, dramático, com pessoas reais e não deixa de causar aquele sentimento incômodo de ´essa é a droga de mundo em que vivo?´. Por que assistir então? Exatamente por isso! Alguns podem achar um absurdo, afinal, cinema é para entreter, divertir e aproveitar bons momentos e não sofrer assistindo tantas injustiças e tanta violência. Essas pessoas esquecem que cinema é das poucas formas de arte que consegue te pegar desprevenido, te espremer o fígado, pegar uma luvinha fina e esbofetear-te a cara sem dó. E de repente a pessoa que sai da sala é diferente da que entrou.

Quem não viu ainda, veja. Querô certamente vai entrar para o rol dos filmes que conspiram a favor da nossa realidade, expondo cada ferida e cada desvio que ninguém faz força pra ver. E mesmo que você ache muito triste, muito dramático, a realidade continua existindo, e sendo o que é, mesmo que nos neguemos a conhecê-la.

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