sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008


Bom, antes de começar, preciso dizer que o blog começou a receber colaborações na ilustração!
O Gabriel me mandou o primeiro desenho que foi feito em cima do texto a seguir.
Aí pedi um currículo pra saber o que falar sobre ele, mas recebi um ótimo, já pronto:

"Gabriel Messias, desenhista que vem atuando e estudando há 12 anos na area de caricatura e cartoon, entre seus professores está o cartunista Rui Jobin Neto (Jarbas) com quem teve aulas de história em quadrinhos, e o famoso Caca (estúdio R&C) com quem aprendeu "realmente" a arte final. Seus desenhos já foram expostos no litoral sul e norte de São Paulo. Já fez desenhos para grifes infantis e logotipos para empresas e ongs. Ultimamente ele se define como: moreno, alto, bonito e apaixonado pela namorada."
(ehehe)

Indulgência ou diligência?

Onde estará a raiz dos nossos males?

No texto anterior falávamos sobre a preguiça da humanidade que a fez chegar onde está - na tecnologia de ponta com suas maravilhas incontestáveis e, em contrapartida, também na inércia produtiva que a impede de chegar à amplitude de uma vida de conhecimentos múltiplos.

Como disse no outro texto, chegamos assim a um paradoxo que nos leva a uma nova discussão, proposta pelo David: afinal, o homem é indulgente ou diligente?
Se chegamos ao grau de desenvolvimento da ciência atual, o homem não seria produtivo? Por outro lado, se ele assiste ao Faustão sem se dar conta da mediocridade cultural que habita a TV nos domingos, então ele não seria preguiçoso?

Para todo lado que olharmos nos depararemos com pesquisas, teses, testes e todo tipo de atividade que faz tudo evoluir. Assim, nascem as curas das doenças, as próteses para os deficientes, os guias GPS dos carros, as sojas transgênicas com seu poder sobrenatural de crescimento, a interconexão entre as pessoas do mundo inteiro, etcetera.

O homem tem, inata, uma vontade de descobrir, de desbravar este mundo e todas as suas possibilidades.

Não se contesta a capacidade de o homem transformar seu mundo, gerir sua vida de forma plena. Pelo contrário, meu questionamento tem relação com a inércia do "homem comum em não criar e só consumir".
Note que usei o termo "homem comum"...

O mundo foi planejado de uma forma específica. De todos os avanços que citei acima e no outro texto, podemos observar que esse conhecimento não parte do "homem comum" mas dos especialistas.

Tudo está segmentado (e segregado) em todos os lugares. Veja: o cientista pesquisa; o produtor produz; o governo comanda; o administrador administra; o jornalista dissemina; o trabalhador midiático implanta; o comerciante vende e o homem comum consome.

A maior parte das pessoas se enquadra aí - na categoria 'homem comum'. Sou eu, você, a vendedora de flores na esquina, o balconista da loja, o serralheiro.

Indo mais além, os cientistas, jornalistas, produtores, também fazem o papel de homens comuns em setores que não passem por suas áreas de conhecimento.

Então lanço a seguinte questão: esse conhecimento que levou ao topo o que usufruimos na área da saúde, alimentação, tecnologia (...) é nosso? Faz parte do nosso dia-a-dia? Podemos interferir, mudar, opinar ativamente? Não. Porque não temos os mecanismos necessários para sequer compreender o que anda acontecendo bem aqui, no planetinha azul.

Nossa falta de tempo, falta de conhecimento, interesse e disposição nos põe sentados no acolchoado trono da padronização, vivendo nossas vidas pasteurizadas - não temos os embates do homem das cavernas pois a caça está bem ali nos supermercados, nem precisamos morrer por uma infecção no dente. Mas, por outro lado, perdemos as rédeas das nossas vidas, o contato próximo e cotidiano com a natureza, o tempo livre necessário ao aparecimento de perguntas existenciais e à vontade de investigá-las.

É como se formássemos um enorme presépio onde, uma vez ovelha ou rei mago, não há outro papel a interpretar ou inventar.
Isso é culpa do próprio homem comum que tem preguiça de desmontar esse teatro e escrever uma nova peça.

Enquanto não nos jogarmos de cabeça na vida, sem medo das infelicidades que encontraremos no caminho certamente, seremos sempre reféns de uma existência medíocre que, se nos poupa de grandes problemas, também nos mantêm longe de grandes satisfações.

O homem é indulgente quando se dá ao luxo de ficar cansado e não ler um livro, quando gosta de escrever mas não encontra tempo, quando quer estudar mas precisa cuidar da família, quando quer construir, ele mesmo, sua própria ferramenta mas se convence de que é mais conveniente comprá-la, enfim, quando lê um texto questionador e só consegue pensar no quão chato é seu autor...

Uma vez uma professora me disse que costumava estudar várias religiões mas parou no catolicismo porque tinha medo de ficar maluca ao encontrar argumentos sempre diversos que a deixavam confusa.

Ora, se não há, nem em um professor, o desejo de conhecer, de colocar à prova seus próprios argumentos, de testar-se sem medo do caos interior, o que esperar das outras pessoas?

A curiosidade, o fascínio, o desejo, a vontade da busca, são os sentimentos que movimentam - fugindo de um processo vicioso - a vida.
Já a estagnação, o medo do novo, do incerto, do instável, são os que paralisam a seiva, estancam o sangue, fazem as pedras criarem musgo.

Quais desses sentimentos andam imperando nos homens comuns? Você mesmo, que me lê agora, o que anda fazendo além de escovar os dentes, tomar café, pentear os cabelos, levar as crianças à escola...?

Acredito sim, que o homem é indulgente, e acho difícil mudar.

Marcella Santos


Até mais, pessoas!!

Um comentário:

Unknown disse...

Quer mudar o mundo mude a sí. O melhor sermão é o exemplo. Indignação só com ação. Estas frases fazem com que eu seja mais tolerante com o mundo lá fora, consumismo exagerado, vivem a noite como se fosse a última, o egoísmo em geral. No entanto, o mundo está em constante mudança, a natureza, as pessoas, os valores, mas, a necessidade exigirá uma mudança para melhor. Estamos num verdadeiro apocalipse, e sentiremos o desejo de paz, não a paz da ociosidade, da inércia, mas a paz da ação em melhorarmos e ajudar as outras pessoas à melhorarem. É claro que precisamos começar agir agora, mas na natureza nada muda de forma brusca, a mudança é gradual. O que os homens comuns estão fazendo agora? Não sei. Eu, estou comentando um texto, que não é de uma pessoa comum. Beijos.